Apresentação de pesquisa leva ao palco
as nuances da dança de salão em tempo real
Com 17 anos de carreira na dança, o coreógrafo e bailarino Giovani Monteiro chegou num momento de inquietude em seu trabalho ligado à dança de salão. E questionou-se: “Ou eu penso naquilo que está sendo dançado ou eu desisto. Não quero mais simplesmente reproduzir os passos sem pensar”. Da inquietude de Giovani surgiu a ideia de pesquisar e questionar a representação do formato pronto (e já conhecido por todos) da dança de salão, e como a conexão entre duas pessoas que estão dançando é importante para a fluidez dos movimentos.
Aprovado pela Lei Municipal de Incentivo à Cultura, o projeto que sai do papel e ganha o nome de ‘Entre Nós’, começou a ser desenvolvido em julho de 2012 por Giovani e pela professora de dança e bailarina Caroline Zini. ‘Entre Nós’ será apresentado no dia 16 de junho, em duas sessões (às 17h30 e às 19h30), no Teatro São Carlos. No palco, o casal também será conduzido pelos músicos Lazaro Nascimento e João Viegas, que irão conectá-los à trilha sonora executada em tempo real.
Nas apresentações, a pesquisa vai sendo, digamos assim, montada na frente do público, por meio da improvisação dos passos dos diversos estilos da dança de salão, que vão se misturando e se integrando. Partindo deste princípio, a primeira sessão não será igual à segunda.
“Dentro do repertório da dança de salão e reorganizando os códigos que todos estão acostumados a ver, encontramos algumas estratégias de presença, e tentamos utilizar esta reorganização dos padrões para deixar o casal em estado de alerta, de atenção ao que acontece entre eles, e entre eles e os músicos”, explica a pesquisadora em dança, Carolina Campos.
Segundo Carolina, o que emergiu de seu encontro com Giovani Monteiro foi a necessidade de recolocar o que é causa e o que é consequência na dança de salão. Ao invés de tomar o show e o exibicionismo como motor para o encontro, foram expostas as relações como causa e a estética como consequência. Com isso, desapareceram alguns estereótipos típicos dos espetáculos de dança de salão (ex.: o malandro associado ao samba) e ressurgiu, mesmo que em palco, a atmosfera do encontro, dos bailes, da relação do casal. Mudamos a forma de expor esse tipo de dança, não o seu conteúdo”, acrescenta Carolina.
Na tentativa de mostrar ao público o que acontece entre um casal que está dançando num baile, e o nível de envolvimento que deve existir entre eles para que a dança possa existir, ‘Entre Nós’ é o exercício de mudar a dança na hora em que ela está acontecendo, mas inserida em uma estrutura já trabalhada. A fluidez dependerá do clima, das interferências sonoras (seja da reação do público, seja da execução da trilha, ao vivo, pelos músicos), bem como da própria sintonia e sincronia do casal.
“Pesquisamos o que seria essencial para se dançar no salão, porque existem vários elementos como o entretenimento e a integração social, que dão forma à dança no salão e que vão além da coreografia. Não queremos com isso nos distanciar da dança que todos conhecem, e sim, mergulhar nas sensações que os diversos estilos proporcionam num baile. Tentamos buscar um jeito de mostrar ao público o que não se vê, mas o que se sente”, analisa Giovani.
Para o coreógrafo, a dança de salão pode ser improvisada, já que a diversão que está na origem desta forma de dançar também vem da escolha do passo em cima da hora. “Se você altera, por exemplo, o ritmo de uma passo, muda tudo. A coreografia e a constante apropriação de ‘personagens’ podem limitar a essência da dança de salão, que é a troca de sensações entre duas pessoas. É o prestar atenção no outro, à resposta que vem do outro ao teu estímulo naquele momento. E isso envolve o conduzir e o ser conduzido”.
A parceira de Giovani, Caroline Zini, descobriu que é importante saber conduzir, mas ser conduzido também. “Como eu posso impor aquilo que eu quero, complementando o homem e aproveitando o movimento dele para dançar do meu jeito? Têm momentos que a mulher acaba levando o homem. E ele pode aproveitar o que eu faço para dar sequência ao próximo movimento”, avalia.
A mesma interação entre o casal deve permear a performance dos músicos, se eles irão ou não seguir numa determinada “batida”. Como não há coreografia, não há repertório musical definido. Os músicos também irão se orientar pelas nuances e sensações transmitidas pelo casal, além de ficar de olho nos passos, que darão pistas para aonde o casal está indo.
Em ‘Entre Nós’ a única coisa que está traçada é o desafio ligado ao insólito da apresentação. “Na prática, durante os ensaios, descobrimos que é difícil manter durante todo tempo a conexão entre o casal proposta na pesquisa, porque há muitos elementos de dispersão”, finaliza Giovani.
‘ENTRE NÓS’
16/06/13 | Teatro São Carlos
Sessões | 17h30 (aberta) e 19h30 (R$ 20) – estudante e sênior (50% de desconto).
Obs.: retirada e venda de ingressos no Clube Ballroom (Coronel Flores, 810 – sala 107 – Moinho da Estação) e no Teatro São Carlos (Feijó Júnior, 778 - 2º Andar - São Pelegrino).
Oficinas | Como parte do projeto, três workshops serão realizados nos dias 5, 12 e 19 de julho, das 18h às 20h, no Clube Ballrom.
Outras informações
Clube Ballroom | 54 3223.2159 – 9193.8638
Caroline Zini | 8408.3857
FINANCIAMENTO
Lei de Incentivo à Cultura
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